segunda-feira, 16 de maio de 2011

Saudades


Trancar o dedo numa porta dói.
Bater com o queixo no chão dói.
Torcer o tornozelo dói.
Um tapa, um soco, um pontapé doem.
Dói bater a cabeça na quina da mesa.
Dói morder a língua, dói cárie, dói cólica e pedra nos rins.
Mas o que mais dói é a saudade.
Saudade de um irmão que mora longe.
Saudade de uma cachoeira de infância.
Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais.
Saudade do pai que morreu do amigo imaginário que nunca existiu.
Saudade de uma cidade.
Saudade da gente mesmo que o tempo não perdoa.
Doem essas saudades todas, mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama.
Saudade da pele, do cheiro, dos beijos , da voz,
Saudade da presença e até da ausência consentida.
Você podia ficar no quarto e ela na sala, sem se verem .
Mas sabiam-se lá.
Você podia ir para escola e ela para o trabalho ou para a faculdade, mas sabiam-se onde.
Você podia ficar o dia sem vê-la, e ela o dia sem vê-lo, mas sabiam-se o fim de semana.
Contudo, quando o sentimento de um acaba ou torna-se menor ao outro sobra apenas uma saudade que ninguém sabe como deter.
Saudade é basicamente não saber.
Não saber se ele continua fungando na hora de dormir.
Não saber se ela ainda carrega aquela bolsa para qualquer lugar que ela vá.
Não saber se ele continua amando acarajé.
Não saber se ela continua a ser tão ciumenta e neurótica.
Se ele continua assistindo pegadinhas.
Não saber se ela tem comido bem por causa daquela mania de estar sempre de dieta.
Se ele continua adorando cerveja.
Se ela está chorando menos.
Se ele continua sorrindo daquele jeito lindo.
Se ela aprendeu a pensar mais com a cabeça do que com o coração.
Se ele continua levando tudo na calma.
Se ela continua viciada em chocolate.
Se ele continua usando aquele pen drive.
Se ela continua gostando tanto dele como antes mesmo depois de tudo que aconteceu.
Se ele continua sendo tão fechado daquele jeito por medo de sofrer.
Se ela continua a ser tão romântica.
Se ele continua a ser tão bom de papo.
Se ela ainda ama sorvete de creme com poupa de morango.
Se ele continua dormindo após o almoço nos fins de semana.
Se ela continua doce.
Se ele continua adorando vitamina de banana com aveia.
Se ela ainda usa óculos.
Se ele ainda usa o mesmo corte de cabelo.
Se ela continua com aquela pele branca feito vela.
Se ele continua com aquele problema de suar demais.
Se ela continua a confiar em todo mundo e se ele continua achando isso tão errado.
Saudade é não saber mesmo.
Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais longos.
Não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento.
Não saber como frear as lágrimas diante de uma música.
Não saber como vencer a dor de um silencio que nada preenche.
Saudade é não querer saber se ele está com outra e ao mesmo tempo querer.
É não saber se ela está feliz e ao mesmo tempo perguntar a todos por isso.
É não quere saber se ele está mais magro, se ela está mais bela.
Saudade é nunca mais saber de quem se ama e ainda assim doer.
Saudade é isso que senti enquanto estive escrevendo e o que você provavelmente está sentindo depois do que acabou de ler.

2 comentários:

  1. Belo texto, a saudade dói sim, mas tb é o cobustivel de quem se ama, pois é ela que faz o sorriso se abrir ao se ver quem gosta, é ela q faz sentir aquele friozinho na barriga ao ouvir a voz, é ela q faz aumentar a vtde de estar perto, portanto a sdd não é só dor, ela pode ser algo bom se for correspondido... bjs

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  2. rs pura verdade, Eidy!
    E como todo mundo já sentiu saudade, esse texto cai como uma luva.

    Vim voar aqui pra te deixar meu carinho, um abração esmagador e desejar um ano lotadinho de bênçãos e realizações.

    Lindo dia pra você!

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